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As empresas apostam em programas de estágio de Verão para estudantes dispostos a abdicar das férias em prol da experiência profissional.
O mercado está cada vez mais exigente. Ter o conhecimento teórico já não chega, é preciso saber fazer. Cada vez mais empresas exigem experiência profissional até mesmo aos recém-licenciados. Assim, levanta-se uma questão importante para todos os estudantes universitários: devem aproveitar os três meses que se seguem para gozar o seu merecido descanso ou começar já a pensar no futuro e a colocar um pé na porta do seu potencial futuro empregador?
É neste contexto que aparecem os programas de estágios de Verão. "Para as empresas é não só uma oportunidade para adquirir mais massa cinzenta com menores custos, mas também para construir uma espécie de observatório de talento", explica Pedro Brito, ‘partner' da consultora Jason Associates. "É uma oportunidade única para os alunos poderem ganhar currículo, mas sobretudo para consolidarem as suas escolhas. Muitos estudantes acabam os seus cursos sem saber em que áreas querem trabalhar. Assim ficam a saber o que querem, ou, pelo menos, o que não querem".
Os estudantes são os primeiros a reconhecer a importância destes programas. Só o programa BES Up, que vai na sua quinta edição, recebeu este ano mais de 2.000 candidaturas. Segundo a directora do BES Universidades, Madalena Torres, há "cada vez mais interesse por parte dos jovens em prescindir das suas férias e fazer este investimento na sua formação para abrir perspectivas e oportunidades de carreira.
Até mesmo empresas como a Galp Energia, que acolhe estágios no Verão mas não tem nenhum programa específico activado, reconhece que são recebidos anualmente muitos pedidos para a realização deste tipo de estágios "sendo provavelmente este o tema sobre o qual somos mais frequentemente abordados durante as nossas visitas às escolas", aponta fonte oficial da empresa.
"Já se desvaneceu a ideia de que as férias de Verão são para descansar", comentam os responsáveis pelos estágios de Verão da PT. "Pelo contrário, começam a ser encaradas como uma oportunidade de crescimento pessoal e de começar a colocar experiências profissionais no currículo".
Currículo ou contratação?
Com a crescente ligação entre as universidades e o mundo empresarial, é natural que as escolas venham a assumir um papel mais interventivo na colocação profissional dos seus alunos. É esse o caso, por exemplo, na Sonae Sierra, que se associa ao Programa de Estágios de Jovens Estudantes do Ensino Superior (PEJENE) promovido pela Fundação da Juventude, recebendo anualmente estudantes nas áreas de Gestão, Engenharia, Marketing e Comunicação. Os estágios têm a duração de dois meses e realizam-se na empresa desde 2000.
O que pretendem as empresas quando apostam nesta relação continuada com as universidades? Para os responsáveis da CGD, o principal objectivo passa por "conhecer o perfil e perceber a atitude dos alunos face ao mundo laboral, para além de motivar e orientar os estudantes na escolha de uma futura carreira profissional". Para este efeito, a Caixa criou o projecto Academia de Verão, que só este ano recebeu cerca de 600 candidaturas, das quais seleccionaram 60 estudantes.
A EDP é outra empresa que aposta com especial força num programa de estágios de Verão, a decorrer de Julho a Setembro, que é visto pela empresa não só como uma oportunidade de ajudar ao desenvolvimento dos futuros profissionais do mercado, mas também como "uma excelente forma de aferir potencial".
Os estágios de Verão podem ser utilizados para mais do que apenas o desenvolvimento profissional dos estudantes. "O objectivo do programa é permitir que os estagiários tenham uma primeira experiência profissional e existe sempre uma forte possibilidade de estes virem a ser contratados posteriormente. Temos actualmente na empresa vários exemplos destes casos", explica Carla Belo, responsável pelo departamento de recursos humanos da Portugália, que já há sete anos que organiza, em conjunto com várias instituições de ensino, estágios que incidem em áreas como compras, marketing ou recursos humanos.
A consciência de que podem ser contratados no futuro aumenta, naturalmente, a adesão dos alunos a estes projectos. Só este ano, a iniciativa de Verão do programa "Come and Grow with Us" do Millennium bcp já recebeu mais de mil candidaturas. "Contratamos um número significativo de participantes do programa, nomeadamente dos estágios de Verão", reconhece fonte oficial do banco.
Isto não quer necessariamente dizer que os estágios sejam feitos com um compromisso de futura contratação. "Há vários anos que a TAP só acolhe estágios curriculares, pelo que não existe qualquer compromisso de integração futura", ressalva uma fonte oficial da transportadora aérea, que, apesar de organizar regularmente estágios na época de Verão, não tem um programa específico para esse efeito. "Existe, porém, uma percentagem significativa de ex-estagiários integrados na empresa".
Em última instância, nada é garantido. Mas é inegável, no entanto, que as empresas tendem a valorizar os alunos que se mostram dispostos a mostrar o seu valor, mesmo numa altura em que poderiam estar a descansar. "Nos tempos que correm a aprendizagem em posto de trabalho, para complementar a académica, é imprescindível para que os futuros profissionais se tornem mais competitivos e acima de tudo que aprendam a "pensar fora da caixa", afirma Carla Rodrigues, directora de recursos humanos do Martinhal Beach Resort & Hotel.
Ofertas de estágio
BES
O BES tem um programa de estágios de Verão, o "BES Up" para o qual seleccionou, este ano, 185 estudantes de 2.000 candidatos para três áreas: saúde, cooperação internacional e formação diversificada (gestão, direito, engenharias e comunicação). Podem durar de 15 dias a dois meses e meio e são remunerados com 500 euros mensais.
Unilever
Os estágios de Verão da Unilever duram dois meses e são focados nas diversas áreas de gestão. A iniciativa pretende dar suporte aos gestores, permitindo aos alunos aprenderem com a experiência. Em cada programa são recrutadas 4 a 5 pessoas com frequência em licenciatura e são remuneradas com 400 euros mensais.
CGD
"Academia de Verão" é a oferta da CGD e destina-se a estudantes do 2º ano de licenciaturas em Economia, Gestão, Finanças, Marketing e outros cursos relacionados com a banca. Os estágios de Verão têm 60 vagas, duram mês e meio, da 2ª quinzena de Julho ao fim de Agosto, e são remunerados com 750 euros.
PT
A Portugal Telecom tem parcerias com universidades para estágios de Verão, com a duração de dois meses, que são remunerados com uma bolsa de estágio. Esta varia de acordo com o nível de ensino, isto é, se o candidato é finalista de licenciatura ou de mestrado integrado. Não existe limite no número de vagas para estes estágios.
EDP
A EDP oferece um programa de estágios de Verão para alunos finalistas de licenciatura ou do 1º ano de mestrado. Decorrem de Julho a Setembro e podem durar desde um a três meses. Os estudantes são remunerados com um valor associado ao subsídio de alimentação. Este ano são disponibilizadas 45 vagas.
Millennium bcp
Desde 2006 que o Millennium bcp recebe estudantes da licenciatura durante o Verão, através do programa "Come and Grow with Us". Os estágios têm a duração de um a dois meses e são remunerados no máximo com 750 mensais. Este ano foram abertas 50 vagas para diversas áreas como crédito, marketing, empresas ou gestão de activos.
Vodafone
A Vodafone abre as portas a estagiários de Verão no âmbito de protocolos com algumas universidades. Os estágios têm a duração de um a dois meses e o número de vagas para acolher os jovens varia de ano para ano, consoante os pedidos das universidades e a disponibilidade da empresa para acompanhar os estagiários.
Fonte: Económico | 2010-07-22